terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A Morte é uma Piada

A morte é uma piada, disse Martha Medeiros em uma de suas crônicas, e devo dizer que concordo com ela, é sim uma piada, e uma piada sem graça! ela explica:

" [...] Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?… De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um chiste.Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida.[...]

Como meu pai sempre diz: pra morrer basta estar vivo. Ainda hoje estive num velório e pude me certificar disto, Não conhecia muito bem a pessoa, aliás, não o conhecia, apenas o vi uma vez, era primo de alguém muito próximo a mim porém também não era tão próximo dele, aquele parente que nem se tem contato, pois bem, talvez por isso mesmo, por não ser nem superficialmente ligada ao sujeito é que eu tenha coragem de escrever sobre essa "piada"... é claro que lamento.... acho que qualquer vida interrompida deve ser lamentada.
Ali estava um rapaz de 25 anos que estava em casa, beijou sua esposa pegou a chave do carro e de rompante foi surpreendido pelo indezejado ataque cardíaco ( e repito: 25 anos). Mas se de repente ele não beijou sua esposa? se ele chegou em casa stressado, cançado ou um tanto distraído que nem percebeu o cabelo novo da sua mulher? olhou para ela e quis compartilhar uma série de coisas, quis dizer o quanto a amava mas preferiu se calar e deixar para depois. Ou pior... se ele a distratou e a ofendeu? ou quem sabe ele foi o distratado?
Fiquei ali sentada observando os rostos e imaginando as última horas daquele rapaz, não ouvi nada, não sabia nada sobre ele, sobre sua rotina, ou personalidade, nem especulei nada a respeito; Apenas fiquei imaginando quando foi a última vez que que ele esteve com os pais, a última vez que ele fez algo pela 1º vez, a última vez que ele deu uma boa gargalhada ou que derramou algumas lágrimas e quais seriam seus motivos,como foi seu último dia de trabalho e quais eram seus planos para o futuro... para onde será que ele ia? de repente estava atrasado para algum compromisso, pelo menos ele pensava que estava... e subitamente seu relógio biológico decidiu parar... mas os ponteiro do relógio da parede continuaram a rodar, a chuva lá fora continuou a cair, a cidade adormeceu e amanheceu, e a luta pela sobrevivência deu continuidade para muitos, o mundo não parou para esperar pela dor de seus familiares.
Já no cemitério, afastada do grupo olhei ao redor, observei aquele cenário molhado e cinzento, sobre as copas das grandes árvores nuves escuras e pesadas... cheiro forte de cravos e crisântemos e pensei: que piada!
Pare para pensar: quanta incoerência! fim para uns, começo para outros, indiferente para alguns. A morte é mesmo uma piada, só que essa não tem graça nenhuma.
Só nos resta mesmo é continuar ignorando-a, pra que perder tempo com isso se podemos pensar na vida? Só nos resta fazer juz ao " Carpe Diem" e imitar a canção de Renato Russo que diz que: "é preciso amar as pessoas como se não hovesse amanhã..."

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